De apaixonamento...

Com dedos pintados, um fundo branco transparente, ela voltava a escrever. Sentia a pele arder em um desejo de se deixar levar pelas palavras. Letras jogadas ao acaso de uma certeza de vida. Ela sonhava um café quente em um inverno aquecedor no sul. Esperava um abraço, e as palavras lhe davam. Ansiava ser quem era e só. Parava de pensar em julgamentos e sorria de si mesma. Letra por letra voltava para si, um reencontro tão mágico como o de sentar a primeira vez a frente do piano e sentir-se arrepiar. Precisou tirar antes as máscaras que lhe haviam sido impostas. Sangrou e tocou depois toda sua sensibilidade nua. Ela não precisava de muita coisa, era simples e bela por essa mesma razão. Tinha uma ingenuidade que encantadamente a enfurecia. Olhou-se ao espelho, confrontou-se em um estado lispectoriano, percebeu seus traços marcados, não mais que desenhados artisticamente. Lavou o rosto deixando escorrer o preto dos olhos e da alma e na nudez pura viu as pupilas dilatarem-se brilhando de novo, o antigo sonho no espelho. Ela se apaixonou por si mesma, e como eu dizia,
ela voltava a escrever...


Por Rafaelle Melo.


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